Texto escrito por uma grande pscicóloga e pedagoga que a Arte Surpresa admira muito: Carmen Lucia Pinheiro !
O compromisso social da criança, na fase da primeira infância, gira ao redor de suas brincadeiras. O jogo é um assunto sério, é seu trabalho, seu meio de descobrir o que ela e seu mundo são e o que podem fazer um ao outro.
Apesar das atividades que o mercado oferece todos os dias, as crianças ainda tem preferência pelos brinquedos de sempre como o carrinho, a boneca, a bola... Muitas vezes, as crianças são envolvidas pela mídia e escolhem um brinquedo da ‘moda’, para logo depois deixarem num canto qualquer...
Lembro de uma ocasião, quando a mãe de um menino de 5 anos de idade me procurou aflita porque seu filho preferiu ganhar um par de luvas e uma lanterna ao invés de uma bicicleta nova. Simples, não é mesmo?
O brinquedo é um meio importante através do qual a criança exercita o impulso de desenvolver-se. É um passatempo sério. É por meio dele que se realiza grande parte da infância. É através do brinquedo que a criança se transpõe do conhecimento para o imaginário, a fantasia...
Muito mais do que uma diversão, as brincadeiras das crianças estão relacionadas com um aprendizado fundamental: seu conhecimento do mundo, através de suas próprias emoções, embora nos pareça que as crianças brinquem apenas por prazer. Nesses momentos, elas dominam suas angustias, elaboram suas ideias ou impulsos. A angustia é muitas vezes um fator que pode dominar a brincadeira infantil.
É na atividade lúdica que a criança encontra a possibilidade de expressar simbolicamente suas fantasias e seus sentimentos contraditórios e conflituosos. Através de seus jogos, ela intui, experimenta, elabora o seu conteúdo interno e exprime isso em seu mundo lúdico.
Winnicott ressalta que “as brincadeiras servem de elo entre a relação do individuo com a realidade externa ou compartilhada”.
Inicialmente os pequeninos brincam com o seu próprio corpo (mãos, olhos, pés) e com objetos: chocalho, a bola... aos dois anos eles realizam suas atividades ainda individualmente. Nessa fase inicia-se o jogo dramático, com a representação de temas diários através das palavras, bonecos e bichinhos. Por volta dos três anos, meninas e meninos apresentam suas fantasias a respeito da vida amorosa dos pais e deles próprios.
Mais tarde, por meio de desenhos, as crianças representam sua vida mental, isto é, a capacidade que as crianças tem de criar objetos em imagens móveis. A imagem também entra por outro caminho no mundo de seus brinquedos: aparece como livro de histórias.
As crianças progridem ao brincar sozinhas para brincarem ao lado de outras, mas não com elas, e finalmente brincam cooperativamente e interagem com outras crianças.
Aos cinco/seis anos, elas representam papéis definidos em relação a seu sexo, e isto contribui, e muito, para o seu desenvolvimento.
A criança em contato com os seus próprios sentimentos pensa em momentos e seus desejos fluem e influenciam o mundo objetivo, animando, colorindo e dando-lhe forma de modo que seu mundo inclua uma grande parte do ‘seu mundo’ o que é bastante surpreendente para os adultos.
Portanto as brincadeiras na primeira infância são um assunto sério e a contribuição do brinquedo ao desenvolvimento e aprendizagem nessa fase, vem sendo cada vez mais reconhecida e valorizada."
Carmen Lucia Pinheiro
Psicóloga, Psicopedagoga, Terapeuta de Família e Casal (CRP 05/4689)
Telefone: (21) 2521-5297
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